terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Macacos saguis percebem som de repouso numa melodia



                      
Experimento detectou nos animais traços de sensibilidade à música semelhantes aos já observados em bebês humanos
Todos os primatas produzem uma grande variedade de vocalizações de chamada. No entanto, apenas os humanos possuem linguagem e música. Essas habilidades exigem a chamada “sensibilidade à dependência”. Os humanos esperam que uma sentença contenha um agente e um verbo correspondente; ou que uma melodia contenha notas que se relacionam umas com as outras. Essa “sensibilidade à dependência” é especial dos seres humanos ou também está presente em outros primatas? Para responder a essa pergunta, Stephan Reber, Vedrana Šlipogor e seus colegas do Departamento de Biologia Cognitiva da Universidade de Viena analisaram os macacos saguis comuns. Esta espécie pertence aos primatas do Novo Mundo, que se separaram dos primatas do Velho Mundo (incluindo humanos) há mais de 30 milhões de anos.
Os pesquisadores expuseram os saguis a sequências de sons que começaram e terminaram com um som grave, ou baixo, e possuem números variados de tons altos e médios. Os tons baixos criam os elementos dependentes e, como na linguagem ou na música, eles podem estar distantes um do outro. Depois que os macacos ouviram centenas dessas sequências, eles foram atraídos um a um para um local de teste e ouviram dois tipos de novas reproduções: sequências que seguiam o mesmo padrão de antes (algumas com diferentes números de tons altos entre os dois baixos) e sequências em que faltava o primeiro ou o último som baixo. Nestas últimas seqüências, portanto, faltava o elemento de dependência.
Os pesquisadores verificaram se os saguis encaravam mais o alto-falante durante as sequências com dependências ou nas sequencias sem elas. Eles usaram um software especializado criado pelo co-autor da pesquisa, Jinook Oh, que conseguia rastrear automaticamente os movimentos da cabeça dos saguis. Este procedimento permitiu uma precisão sem precedentes da codificação comportamental. “A diferença entre seqüências com e sem dependências provavelmente possui pouca relevância para nossos saguis. É por isso que projetamos uma configuração que conseguia detectar até mesmo os menores movimentos de cabeça”, explica Reber.
Os saguis realmente distinguiram as gravações. Eles se voltaram mais vezes para o alto-falante ao ouvir sequências com dependências. “Isso foi surpreendente, uma vez que os primatas costumam observar mais os estímulos inconsistentes durante esses experimentos. No entanto, a preferência por sequências familiares é frequentemente observada em estudos com bebês humanos”, disse Šlipogor. A presença da sensibilidade da dependência em saguis sugere que esse importante aspecto da linguagem já estava presente no ancestral comum entre os macacos do Velho e do Novo Mundo, dos saguis e dos humanos.
Universidade de Viena